terça-feira, novembro 29, 2005

O Rock & Roll, Sua Expressão e Seu Enfoque Cultural

A cultura que envolve a criação de uma expressão artística calcada na exposição de idéias se faz através de uma jornada pelo universo musical conhecido como underground, com sua origem na percepção de um contexto social e político, que se evoluiu gradativamente pelas trilhas seguidas pelo Rock & Roll.
Em relação à anunciação desta expressão, a pesquisa será orientada para uma evolução posterior aos anos 50, onde se deu a origem do termo rock & roll, denominado por dj’s da época, passando por apresentações televisivas e concertos mais reservados e voltados para o tradicional, sem um impacto social forte e audacioso, porém o começo do debate cultural aqui proposto.
Quer-se enfatizar o posterior à fusão do country com o rhitmin’ Blues, no intuito de um estudo da evolução do comportamento sucessor a astros como Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard, que precursionaram o começo de uma evolução cultural no comportamento social e musical, trabalhando com letras pouco expressivas, mas que já denotavam narrações de fatos, histórias e viagens, que incutiam na sociedade a preocupação em se questionar os valores tradicionais.
O ponto de interesse é a capacitação do rock como expressão social e política, tendo a partir dos anos 60, o condensar do pop à poesia, na capacitação do artista como um instrumento de idéias, de um veiculador de posturas, de uma revolução em constante mudança.
Através de Bob Dylan, nascido em Duluth, Minessota, o cenário Folk - a expressão folclórica americana nos anos 60, consolidada por ser a orientação de uma disciplina quanto ao patriotismo e mesmo um condensar de ideais políticos - ganha um contexto de associação entre vários artistas no intuito de uma revolução musical. São compositores modernos, vanguardistas, bluesmans e jazzistas se unindo para o nascimento de uma nova vertente musical em detrimento aos 50’s. O que se quer é garantir através da música, uma força que eleve o estado de espírito, a crítica e a mudança de comportamento.
Os cafés, referências para o patrocínio do espetáculo musical se tornam pontos de divulgação dos novos artistas, como é o caso do “Gás Like Café”, na Califórnia nos anos 60, que abarcava músicos de vanguarda e de experimentações e dava oportunidade aos artistas de uma aquisição financeira, normalmente adquirida através de “Cestinhas” passadas ao público.
O objetivo principal destes “novos artistas” é a conscientização social através da arte, sendo um dos marcos principais desta nova fase, a expressão artística da canção “Blowin’ In The Wind”, de maio de 1962, sendo composta por Bob Dylan e se transformando num hino da paz e da celebração ao pensamento humano, suas virtudes e seus propósitos.
Através de apresentações coletivas e comícios, o ideário folk, caracterizado pela sua ligação aos movimentos políticos e civis da época, os artistas se expressavam para um grande público, como ocorreu em Berkeley, na Califórnia, em 1964, reunindo artistas como Joan Baez, Bob Dylan e Richie Havens.
Sempre nos verões da década de 60, os cantores folk se reuniam no “Festival de New Port”, onde fãs se reuniam vindo de várias partes do país se associando aos compositores e músicos.
No verão de 65, no mesmo festival, Bob Dylan, aproveitando de todo seu prestígio, quebra a tradição da música folclórica, substituindo os instrumentos acústicos pela guitarra elétrica e equipamentos com uma potência acima da habitual utilizadas nos eventos folk, criando uma capacitação musical através da instrumentação advinda do Rock & Roll dos anos 50. Surge a valorização do conteúdo no universo do rock atribuído a Bob Dylan, o pioneirismo e a socialização da música.
O interesse de Bob Dylan pela guitarra elétrica surge através de um encontro com a rapaziada da Inglaterra, “Os Beatles”, em especial com Jonh Lennon. A diversidade de sons, distorções e melodias extraídas da instrumentação elétrica em associação com a composição de Dylan e outros, cria uma nova música, um novo protesto, um novo meio de expressão cultural, Quebrando barreiras e efetivando a conquista cultural adquirida pela liberdade do “Peace & Love” no começo dos anos 70.

“Bob Dylan exerceu total influência em tudo que veio depois dele, na música Pop, no Rock, no Folk e talvez no Rhitmin’ Blues”
Tom Petty, Músico;

Bob Dylan é o Picasso do Rock & Roll”
Bono Vox, Músico.

A associação de Dylan com os beatles, mesmo que de uma forma virtual, realça a capacitação desta nova vertente musical, sendo Dylan na composição e beatles na música instrumental.
Através desta nova leitura de comportamento, e desta influência da música como um caráter expressivo da revolução cultural, vários simpatizantes se revelam participantes do contexto e em Julho de 1965 é lançada ao topo da “Billboard” a canção “Mr. Tamborine Man”, de autoria de Bob Dylan, interpretada com arranjos dos “the Byrds”, Marcando uma nova safra de músicos e artistas embasados pelo conteúdo e reflexão surgida do Rock & Roll.
Em resposta ao antigo folk temos a evolução do conceito de rock e valorização dos novos perfis e criatividade artística. São criados vários eixos culturais dentro e fora dos Estados Unidos, como Nova Iorque, primordialmente e depois Los Angeles, na Califórnia, se tornando um centro musical embasado na “Surf Music”, tendo sua representação nos “Beach Boys” e na condecoração ao litoral e à diversão, numa primeira instância.
Em 1967, os “Beach Boys”, numa resposta a evolução do artista como músico, lançam o disco “Pet Sounds”, que se torna o marco da associação entre a música inglesa e americana, lançando uma linguagem universal em relação ao estilo e alavancando o underground no cenário mundial, definindo a vontade de se quebrar os limites da música, tendo representações peculiares e um forte impacto nos dois continentes.

Fica claro o interesse dos artistas em seguir adiante, rumo ao desconhecido, ao acaso, à experimentação. No club londrino “bag Of Nails” Jimi Hendrix se apresenta pela primeira vez, explicitando o patrocínio inglês aos novos talentos do underground, que se torna uma nova liderança no cenário mundial em 1967.
No mesmo ano Hendrix, em seu retorno aos Estados Unidos, realça a mudança do cenário mundial, contribuindo para o “Monterrey pop Festival”, em Monterrey, Califórnia. O festival marca o início do ideário “Hippie”, transformando a Greenwich Village, local destinado a este novo público, num cenário de revolução cultural, onde a importância maior é a socialização, tornando o espetáculo totalmente independente do fator econômico, como também foi o caso do “Woodstock Festival” em 1969.
No Festival de Monterrey, apenas Ravi Shankar recebeu cachê, três mil dólares. Foi a primeira vez que Jimi Hendrix tocou para americanos, e a primeira vez que Ottis Redding tocou para brancos, o que definiu o espetáculo como um marco cultural, a consolidação da música negra à branca, a fusão de interesses comuns, e a idealização de uma sociedade baseada na liberdade de expressão.

“O Monterrey Pop Festival legitimou o Rock & Roll como forma de arte em concerto”
Al Kooper, músico.

A energia e a expressão artística advinda da evolução do Rock se torna a base para a revolução do pensamento, da sexualidade, da moda e da política.
Quando o “The Who” se apresenta no festival e fecha o espetáculo com a primeira quebradeira de instrumentos em palco, temos a garantia da música como protesto, e que seqüenciado por Hendrix na sua orgia elétrica - uma encenação sexual com os instrumentos e a música - temos o entretenimento e a sexualidade como alvo de referência quanto às apresentações e a titulação cênica no espetáculo destinado ao público.
“Do ponto de vista estritamente musical, a obra de Hendrix encerra a grande lição cultural do rock. Foi essa música que praticamente estabeleceu o método fundamental de criação da contracultura. Consiste basicamente em recolher o lixo da cultura estabelecida, o que é pelo menos, considerado lixo pelos padrões intelectuais vigentes, e curtir esse lixo, leva-lo a sério como matéria prima da criação de uma nova cultura. Misticismo irracionalista, filosofia oriental, astrologia, especulação metafísica, hedonismo primitivista etc., geralmente considerados bobagens infantis pelo melhor pensamento moderno, foram transformados nas principais disciplinas do underground”.1

A boêmia dita como idealismo hippie, se expande pelo planeta e através do Woodstock, consolida seu ápice enquanto legião de pessoas com afinidades musicais, políticas e ideológicas.
No cenário de uma fazenda em nova Iorque, de propriedade de Max Yasgur, são realizados três dias de evento, voltados para um público novo e sem nenhuma especulação financeira.
Anônimos se juntam a famosos e retratam o maior festival Hippie do planeta, onde a liberdade de expressão assume um caráter de revolução cultural. São novos valores morais, a reivindicação como um caráter pessoal do jovem, o idealismo crescente que perdura numa sociedade insatisfeita com as posturas tradicionais.
São contestados valores sociais, a guerra, a política e economia mundiais. A música assume um caráter de reivindicação, e através do hino americano tocado por Hendrix com distorsões de guitarra imitando bombas e tiros, no fechamento do espetáculo, retrata no povo a anunciação de um compromisso com os direitos humanos e civis.

É o ápice da contracultura2, que além de se manifestar pelo florescimento da cultura jovem dos anos 60, se concretizou “através de inúmeras manifestações surgidas em diferentes campos, como o das Artes, com especial destaque para a música, ou melhor, para o rock; o da organização social, aparecendo em primeiro plano à ênfase dada pelo movimento hippie à vida comunitária, na cidade ou no campo, e, ainda, o da atuação política”.3
O cenário do rock, consolidado, passa por outros festivais como o “Wight Island festival”, de 1970 e segue pela década perdendo sua força e dando espaço às novas tendências como o pop e o disco, ocorrendo uma dispersão do underground em vários estilos, tais como o Heavy Metal e o progressivo, além do glitter, na segunda metade dos anos 70 e o punk rock nos 80, caracterizado principalmente por um ideal de vida agressivo e por idéias anarquistas, mas que também se dispersa por falta de uma identidade forte, sendo absorvido pela indústria cultural, a partir do momento que a imprensa mundial o retrata como sinônimo de má reputação e vandalismo.

No Brasil o enfoque das experimentações tiveram suas origens na tropicália, principalmente através dos “Mutantes” a partir de 1968, sendo que várias bandas se associaram em prol da criação de uma cultura nacional de protesto. Os “Secos & molhados” eram um exemplo claro desta preocupação, tornando composições de Vinicius de Morais e outros compositores da MPB, como também um repertório próprio, um material proeminente à “jovem guarda”, sendo arranjado e especulado pelos artistas de forma a conter uma vontade na sociedade jovem, de que era possível ir além.
Após a “precursão”, o Rock Brasileiro foi seguindo rumos cada vez mais interessantes quanto à composição, e a reivindicação social. Criou-se uma “sociedade Alternativa” através de Raul Seixas nos anos 70, e o debate ideológico de Cazuza nos anos 80, além de várias bandas como “ultraje a rigor”, “Titãs” e “Paralamas do Sucesso”.
Um fato interessante ocorrido na tropicália, é a repulsa do público a Caetano Veloso, devido à introdução do rock à MPB, no intuito de realizar a revolução cultural brasileira, fato este ocorrido também com Bob Dylan, na quebra da tradição folk.
Voltando ao mundo global, nos anos 90, o contexto musical se ressalva pelo “Grunge”, movimento dos “Skatistas do Rock”, iniciado em Seattle, nos estados Unidos, tendo como representantes bandas como “Nirvana”, “Pearl Jam” e “Alice In Chains”. Portanto se caracteriza por ser um movimento em resposta a conjuntura atual, e tenta resgatar a imagem conquistada pelo rock nos anos 70, porém não vinga e cede lugar ao universo Pop, que perdura junto à música eletrônica no Universo Contemporâneo.
Hoje o “Hippie Rock” serve apenas à memória dos antigos e à satisfação dos novos carentes. Uma das causas desta eventual dispersão musical é a perda do enfoque cultural no Rock & Roll.
Nunca houve tanta especulação financeira pelas gravadoras e companhias fonográficas quanto à promoção de eventos e a falta de patrocínios sem fins especulativos, o que retrata no mundo contemporâneo a situação da música enquanto apresentação coletiva, um fato a cada dia mais distante da cultura e socialização.

Figura 1 – O estilo hippie, despojado e característico de uma época de manifestações.

Figura 2 – Woodstock Festival de 1969, definido como o maior evento do underground musical.

Figura 3 – Jimi Hendrix, durante apresentação no Woodstock Festival.

1 – Página 68. In: o que é contracultura.

2 – Termo inventado pela imprensa norte americana, nos anos 60, para designar um conjunto de manifestações culturais novas que floresceram em prol da contestação da tradição dos valores sociais e políticos. In: O que é Contracultura.

3 – Página 40. In: O que é contracultura.

(*) Este texto faz parte da monografia "Expressão Musical na Arquitetura – Rock & Roll, Underground e Ideologia", de autoria de Alessandro Borges, defendida na graduação do curso de Arquitetura & Urbanismo da Universidade Federal de Uberlândia em fevereiro de 2003.

Visão Geral

Quer se viver a virtude, sentindo a solitude que realce as verdadeiras intenções da carne. Os sons de uma nova proposta, o anseio saciado pela busca conquistada. Brilhar, forjar o aparecimento celeste em prol de uma emancipação profana.
Sorrir, sonhar, preparar o amanhã buscando na noite o néctar de uma sedução esplendorosa. Força, físico, beleza transcendental que se firma no espiritual. Matar a própria iniqüidade, ressuscitar a vontade de uma aceitação coletiva. Tocar, sentir, possuir qualquer vida em prol de uma possessão pessoal.
Acenar para incendiar o desejo exposto em olhos que ditam verdades involuntárias. Prazer, luz, plenitude que expõe almas como consumistas de um cosmo que se eterniza em momentos íntimos. Voamos para os céus, buscamos a visão geral, experiência, vida que simpatiza com respostas.
Anseio, liberdade para amar, planejamento para sanar qualquer dor. Sentimentos que se realçam na castração de virtudes ambíguas. Paz, temor, temperança que não se esvai. Encontro que traz à tona as reais significações de uma existência.
Onde foram parar os ciclos que circundam nossos momentos de alegria? Se quer viver a paz, o encontro com algo que permitimos ou não brilhar em um por do sol lindo e eterno. Quantas metáforas seriam necessárias para o realçar de um entendimento camuflado pela insegurança de uma selva. Mistério, sedução, compaixão, desejo e vontade de crescer rumo ao desconhecido mundo dos ausentes.
Quem quer ir ao encontro, quem quer falar de algo novo, quem quer se saciar através de um orgasmo mútuo? Todos, será? As chances são dadas pelo tudo em resposta ao nada, a batalha
de gigantes que não cessa até o desfalecer geral. Quem cai? Nós, eles, os outros que se vingam de qualquer silêncio voluntário. Medo. Plenitude. Sabedoria. Egoísmo. O tudo e nada no comando de uma existência completamente sombria.
Se quer querer, se quer se querer, se quer viver de querer ser querido. Quanta coisa a dizer àqueles e estes que noz fazem felizes e tristes. Se caminha, se segue, trilham-se caminhos, às vezes obscuros e às vezes tão claros que a cegueira surge como uma resposta aos nossos anseios. Vive-se a vida, exalta-se a morte, promove-se a exuberância de uma paz ilusória, quais são as razões de um livro sem consulta, de um amigo ausente, de uma voz que nega qualquer relação pessoal, queremos a realidade, o prazer, a energia que se dissipa, mas que sempre é gerada novamente, queremos luz, o cosmos e o karma camuflados em prol de um esconderijo atribuído a poucos personagens.
Viva os protagonistas, neles estão as respostas de toda uma existência, a virtude, a inocência, a sedução, o alcançar de um trajeto almejado. Sejamos os pais, ao invés dos filhos. Sejamos a alma à carne. Sejamos os céus ao inferno. Sejamos o diálogo ao monólogo. Sejamos a luz e esqueçamos as trevas. Paz, esperança, amor e um pouco de loucura é claro!
(*) Esta crônica foi escrita por Alessandro Borges no dia 21 de fevereiro de 2002, relatando uma visão geral sobre a nossa existência....